de sans-culottes clamando por sangue, nada de frios bolcheviques espreitando na sombra, nada de aiatolás dando ordens em nome de Deus. De modo que Obama adorou. Ele não ocultou seus sentimentos. Praticamente exortou o ditador a desistir e ir embora. Se Obama tivesse permanecido nesse caminho, o resultado teria sido histórico. Até então a potência mais odiada no mundo árabe, os Estados Unidos teriam eletrizado as massas árabes, a região muçulmana e na verdade boa parte do Terceiro Mundo. Poderia ter sido o início de uma era totalmente nova. Creio que Obama o percebeu. Sua primeira reação instintiva é sempre certa. Numa situação assim, um verdadeiro líder - esse animal tão raro - se destaca.

Mas aí ele resolveu pensar melhor. Espíritos pequenos começaram a argumentar com ele. Políticos, generais, "especialistas em segurança", diplomatas, donos da verdade, lobistas, dirigentes empresariais, todas as pessoas "experientes" - experientes em fracassos - começaram a argumentar. E, naturalmente, o lobby israelense, com seu enorme poder. "Você ficou maluco?" - advertiam. Abandonar um ditador que por acaso é o nosso filho da mãe? Dizer a toda a nossa clientela de ditadores ao redor do mundo que vamos abandoná-los quando mais precisarem? Como pode ser tão ingênuo? Democracia num país árabe? Não nos faça rir! Nós conhecemos os árabes! Mostrelhes a democracia numa bandeja, e eles não saberão do que se trata! Precisam sempre de um ditador para andar nos trilhos! Especialmente esses egípcios! Pergunte aos britânicos! Isso tudo não passa de uma conspiração da Irmandade Muçulmana. Dê uma olhada no Google! Eles são a única alternativa. É Mubarak ou eles. Eles são os talibãs do Egito, ou pior ainda, a al-Qaeda do Egito. Ajude os democratas bem-intencionados a derrubar o regime, e num piscar de olhos você terá um segundo Irã, com um Ahmadinejad egípcio na fronteira sul de Israel, tramando com o Hezbollah e o Hamas. As peças do dominó começarão a cair, a começar pela Jordânia e a Arábia Saudita. Diante de todos esses especialistas, Obama cedeu. Mais uma vez.

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