Naturalmente, cada um desses argumentos pode ser facilmente refutado.

Comecemos pelo Irã. Os ingênuos americanos, segundo se conta, abandonaram o xá e sua terrível polícia secreta treinada pelos israelenses para promover a democracia, mas os aiatolás se apropriaram da revolução. Uma ditadura cruel foi substituída por uma outra ainda mais cruel. Foi o que Binyamim Netanyahu disse esta semana, advertindo que o mesmo inevitavelmente acontecerá no Egito. Mas a verdadeira história iraniana é diferente.

Em 1951, um político patriota chamado Mohammad Mossadegh foi eleito democraticamente - as primeiras eleições que se realizavam no Irã. Mossadegh, que não era comunista nem mesmo socialista, promoveu amplas reformas sociais, libertou os camponeses e trabalhou com afinco para transformar o atrasado Irã num Estado secular moderno e democrático. Para torná-lo possível, nacionalizou a indústria do petróleo, que estava nas mãos de uma gananciosa empresa britânica que pagava minúsculos royalties ao Irã. Gigantescas manifestações foram promovidas em Teerã em apoio a Mossadegh. A reação britânica foi rápida e decisiva. Winston Churchill convenceu o presidente Dwight Eisenhower de que o caminho tomado por Mossadegh levaria ao comunismo. Em 1953, a CIA armou um golpe, Mossadegh foi preso e mantido em isolamento até morrer 14 anos depois, e os britânicos recuperaram o petróleo. O xá, que havia fugido, foi levado de volta ao trono. Seu reinado de terror durou até a revolução de Khomeini, 26 anos depois. Sem essa intervenção americana, o Irã provavelmente se teria transformado numa democracia secular e liberal. Nada de Khomeini. Nada de Ahmadinejad. Nada dessa conversa sobre bombas atômicas.

As advertências de Netanyahu sobre uma inevitável tomada do poder no Egito pelos fanáticos da Irmandade Muçulmana, caso se realizem eleições democráticas, parecem lógicas, mas também se baseiam em deliberada ignorância. A Irmandade Muçulmana realmente chegaria ao poder? Seria ela constituída de fanáticos como os talibãs?

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