A Irmandade foi fundada há 80 anos, muito antes de Obama e Netanyahu nascerem. O movimento se consolidou e amadureceu, com uma forte ala moderada, muito semelhante ao partido islâmico moderado e democrático que está governando a Turquia tão bem, e que ela tenta imitar. Num Egito democrático, ela constituiria um partido legítimo desempenhando seu papel no processo democrático. (Isso, por sinal, teria acontecido na Palestina também quando o Hamas foi eleito - se os americanos, conduzidos pelos israelenses, não tivessem derrubado o governo de união, levando o Hamas a tomar um outro rumo.) Em sua maioria, os egípcios são religiosos, mas o seu islamismo está muito distante do islamismo radical. Não há indicações de que o grosso da população, representado pelos jovens da praça Tahrir, toleraria um regime radical. O bicho-papão islâmico é só isso mesmo - um bicho-papão.

Que foi então que Obama fez? Suas iniciativas foram patéticas, para dizer o mínimo. Depois de se voltar contra Mubarak, ele de repente opinou que Mubarak devia ficar no poder, para promover reformas democráticas. Como seu representante, enviou ao Egito um diplomata aposentado que tem como empregador atualmente uma firma de advocacia que representa a família Mubarak (exatamente como Bill Clinton costumava enviar sionistas judeus para "mediar" entre Israel e os palestinos). Esperava-se assim que o detestado ditador instituísse a democracia e adotasse uma nova constituição liberal, trabalhando com a mesma população que mandara para a prisão e sistematicamente torturava. O patético discurso de Mubarak na quinta-feira foi a famosa gota d’água. Mostrou que ele perdera contato com a realidade ou, pior ainda, que é mentalmente perturbado. Mas nem mesmo um ditador desequilibrado teria feito um discurso tão abominável se não achasse que a América ainda estava ao seu lado. Os urros de indignação na praça, enquanto o discurso gravado de Mubarak ainda era transmitido, foram a resposta do Egito. Não havia necessidade de intérpretes.

Mas a América já se havia mexido. Seu principal instrumento no Egito é o Exército. É o Exército que detém a chave para o futu¬

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