ro imediato. Quando o "Conselho Militar Supremo" se reuniu na quinta-feira, pouco antes do escandaloso discurso, divulgando um "Comunicado n° 1", a reação foi uma mistura de esperança e maus pressentimentos. "Comunicado n° 1" é uma expressão bem conhecida na história. Geralmente significa que uma junta militar assumiu o poder, prometendo democracia, eleições em curto prazo, prosperidade e o céu na terra. Em casos muito raros, os oficiais de fato cumprem essas promessas. Geralmente, o que se segue é uma ditadura militar da pior espécie. Dessa vez, o comunicado nada dizia. Simplesmente mostrava pela televisão ao vivo que eles estavam lá - todos os principais generais, menos Mubarak e seu fantoche, Omar Suleiman. Agora, eles assumiram o poder. Discretamente, sem derramamento de sangue. Pela segunda vez em 60 anos.

Vale a pena lembrar a primeira vez. Depois de um período de turbulência contra os ocupantes britânicos, um grupo de jovens oficiais, veteranos da guerra árabe-israelense de 1948, promoveu um golpe, escondendo-se por trás de um general mais velho. O desprezado governante, o rei Farouk, foi literalmente mandado embora. Pegou seu iate em Alexandria e se foi. Nem uma gota de sangue foi derramada. A população ficou eufórica, reconhecida ao Exército pelo golpe. Mas foi uma revolução de cima para baixo. Nada de multidão na praça Tahrir. Inicialmente, o Exército tentou governar através de políticos civis. Mas logo perdeu a paciência. Um jovem e carismático tenentecoronel, Gamai Abdel Nasser, destacou-se na liderança, promoveu amplas reformas, restabeleceu a honra do Egito e de todo o mundo árabe - e inaugurou a ditadura que chegou ao fim ontem. Cabe agora perguntar se o Exército seguirá o seu exemplo ou fará o que o Exército turco fez várias vezes: assumir o poder e entregá-lo a um governo civil eleito. Muita coisa dependerá de Obama. Resta saber se ele apoiará o movimento em direção à democracia, como indubitavelmente preferiria por suas próprias inclinações, ou se dará ouvidos aos "especialistas", inclusive os israelenses, que haverão de exortá-lo a se valer de uma ditadura militar, como há tanto tempo fazem os

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