o Exército do tsar, em guerra contra a Turquia. "Não se desgaste", aconselha a mãe. "Mate um turco e descanse. Mate outro turco e descanse outra vez..."

"Mas, mamãe", o filho interrompe. "E se o turco me matar?"

"Matar você"?, pergunta a mãe. "E por que o mataria? O que você fez a ele?"

Soa como loucura, para qualquer pessoa normal. Soldados pesadamente armados de um comando de elite invadem um navio em águas internacionais, no meio da noite, por mar e por ar - e são as vítimas?

Mas há aí uma gota de verdade: são vítimas, sim, de comandantes arrogantes e incompetentes, de políticos irresponsáveis e da imprensa que os mesmos arrogantes, incompetentes e irresponsáveis alimentam. De fato, são vítimas também da população de Israel, dado que esses eleitores, não outros, elegeram o governo, inclusive a oposição, que não é diferente da situação.

O caso do Exodus repetiu-se, com troca de papéis. Agora, os israelenses são os britânicos.

Em algum lugar, algum novo Leon Uris prepara-se para escrever o próximo livro, Exodus 2010. Um novo Otto Preminger planeja filmar um novo blockbuster. Estrelando, um novo Paul Newman. Sorte que hoje não faltam atores turcos talentosos.

Há mais de 200 anos Thomas Jefferson declarou que todas as nações deveriam agir "com respeito decente pelas opiniões da humanidade". Em Israel os líderes jamais aceitaram a sabedoria dessa lição. Preferem a lição de David Ben-Gurion: "Não importa o que pensem os não judeus. Só importa o que os judeus fazem." Talvez ele tenha pressuposto que judeus não agiriam como imbecis.

Transformar a Turquia em inimiga é pior do que simples tolice. Há décadas a Turquia tem sido a mais próxima aliada de Israel na região, muito mais próxima do que a opinião pública supõe. A Turquia poderia, no futuro, fazer o papel de importante mediadora entre Israel e o mundo árabe-muçulmano, entre Israel e Síria e, sim, também entre Israel e o Irã. É possível que agora tenhamos conseguido unir

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