espionar. Foi impedido de entrar em Israel exclusivamente por suas ideias. O que implica que liberdade acadêmica só vale se usufruída por aqueles que elogiam Israel, e não vale uma casca de alho (como se diz em hebraico) no caso de alguém que discorde das políticas do governo de Israel.

Essa atitude fornece mais argumentos para o campo pró-boicote. Principalmente em vista do fato de que nenhuma universidade israelense, ou grupo de acadêmicos, manifestou-se em protesto.

A ideia de que Chomsky seria um inimigo de Israel é ridícula. Seu nome é claramente hebraico, assim como o de sua filha, Aviva, que o acompanhava.

Encontrei o professor Chomsky pela primeira vez nos anos 1960, quando o visitei em sua sala pequena e atulhada no Massachusetts Institut of Technology (MIT), uma das mais respeitadas instituições acadêmicas dos Estados Unidos e do mundo.

Ele falou com alguma nostalgia sobre o kibutz (Hazorea, um kibutz que pertence ao movimento Hashomer Hatzair, da esquerda sionista) onde passara um ano quando jovem. Trocamos ideias e concordamos em que a solução dos Dois Estados seria a única saída viável.

Seu primeiro nome é uma espécie de herança que recebeu dos pais, que nasceram no império russo e emigraram ainda jovens para os Estados Unidos. A língua materna de ambos foi o ídiche, mas o lar era devotado à cultura hebraica. Noam falou hebraico desde a infância. No mundo mental de sua juventude, socialismo e anarquismo eram misturados com sionismo. Sua tese de doutorado foi sobre a língua hebraica.

Desde então sempre acompanhei suas declarações. Jamais vi qualquer oposição à existência de Israel. O que vi foi uma crítica cortante às políticas do governo israelense - a mesma crítica manifestada pelo campo pacifista israelense. Mas muito mais do que criticar Israel o professor Chomsky dedica-se a criticar os governos dos Estados Unidos, cujas políticas considera mães de todas as desgraças do mundo.

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