O Americano Tranquilo não sabe como se safar de lá. Sabe que, se sair agora, há risco de o país se desintegrar em matança geral.

Dois anos antes de invadir o Iraque, os americanos invadiram o Afeganistão.

Por quê? Porque uma organização chamada al-Qaeda ("a base") declarara-se autora da destruição das Torres Gêmeas em Nova York. Os chefes da al-Qaeda estavam no Afeganistão, lá ficavam seus campos de treinamento. Para os americanos, tudo estava claro - ninguém precisava pensar duas vezes (de fato, parece, ninguém tampouco pensara uma primeira vez).

Se os Estados Unidos conhecessem o país que decidiram invadir, talvez tivessem hesitado. O Afeganistão é um histórico cemitério de exércitos invasores. Grandes impérios saíram de lá com o rabo entre as pernas. Diferentemente do Iraque, que é plano, o Afeganistão é país montanhoso, um paraíso para a guerra de guerrilhas. Além de ser lar de vários povos e de incontáveis tribos, cada povo e cada tribo é furiosamente zeloso da própria independência.

Os estrategistas em Washington não tomaram conhecimento de nada disso. Para eles, parece, todos os países são idênticos, todas as sociedades são iguais. No Afeganistão, também, bastaria estabelecer uma democracia livre, à moda dos Estados Unidos, com eleições à moda dos Estados Unidos e viva! - tudo daria certo.

O elefante entrou na loja de porcelanas sem pedir licença e obteve vitória estrondosa. A Força Aérea "bombou", o Exército não encontrou obstáculos, a al-Qaeda sumiu como um fantasma, os Talibã ("estudantes religiosos") fugiram. As mulheres poderiam voltar a andar pela rua sem véus, as meninas encheriam as escolas, os campos de ópio voltariam a florescer, assim como os protegidos de Washington em Cabul.

Contudo... a guerra prossegue, ano após ano, o número de americanos mortos sobe inexoravelmente. Para quê? Ninguém sabe. É como se a guerra tivesse adquirido vida própria, sem quê nem por

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