Na guerra de Gaza, como em todas as guerras modernas, a propaganda desempenha um papel fundamental. A disparidade entre as forças, entre o Exército israelense - com seus aviões, navios de guerra, artilharia e tanques - e alguns milhares de combatentes do Hamas, levemente armados, é uma disparidade absoluta, de um para mil, talvez de um para um milhão. Na arena política a diferença é ainda maior. Mas na guerra de propaganda a diferença é quase infinita.

De início praticamente toda a imprensa ocidental só fez repetir a linha oficial da propaganda israelense. Ignoraram quase completamente o lado palestino da história e as manifestações diárias do campo pacifista israelense. A versão do governo israelense ("O Estado tem de defender seus cidadãos contra os foguetes Qassam") foi aceita como verdade absoluta. O ponto de vista do outro lado, de que os Qassams são reação ao bloqueio que condena à fome 1,5 milhão de habitantes na Faixa de Gaza, não foi mencionado.

Só quando as cenas horríveis de Gaza começaram a aparecer nas televisões ocidentais a opinião pública mundial gradualmente começou a mudar.

É verdade, os canais de televisão ocidentais e israelenses só mostraram uma pequena porção dos horrores que apareceram, durante 24 horas, no canal árabe da Al Jazeera, mas uma única imagem de um bebê morto nos braços de um pai aterrorizado é mais poderosa do que milhares de frases bem construídas do porta-voz do Exército israelense. E no final essas imagens são decisivas.

A guerra - qualquer guerra - é o reino das mentiras. Podem ser chamadas de propaganda, ou de guerra psicológica, e todos consideram aceitável mentir pelo bem do país. E quem disser a verdade corre o risco de ser considerado traidor.

O problema é que para o próprio propagandista a propaganda é mais convincente. E depois de se convencer de que uma mentira é verdade, que o falso é real, ninguém mais é capaz de tomar decisões racionais.

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