Gente que sofre de insanidade moral não pode realmente entender as motivações de pessoas normais e tem de adivinhar suas reações. "Quantas divisões tem o Papa?", zombou Stálin. "Quantas divisões têm pessoas decentes?" - deve estar se perguntando Ehud Barak.

E, como estamos percebendo, pessoas decentes têm, sim, algumas divisões. Não muitas. Não são capazes de uma reação muito rápida. Nem são muito poderosas, nem muito bem organizadas. Mas num determinado momento, quando as atrocidades transbordam e começam a surgir protestos em massa, esses podem definir uma guerra.

A incapacidade de perceber a real natureza do Hamas levou ao fracasso da previsão dos resultados. Israel é incapaz de vencer esta guerra e o Hamas não pode perdê-la.

Ainda que Israel conseguisse matar todos os combatentes do Hamas, até o último homem, ainda assim o Hamas venceria. Os combatentes do Hamas passariam a ser vistos como modelos para a nação árabe, heróis do povo palestino, exemplos a serem seguidos por todos os jovens no mundo árabe. A Cisjordânia cairia nas mãos do Hamas, como uma fruta madura. O Fatah afundaria em um mar de desprezo, vários regimes árabes estariam sob risco de colapso.

Se ao final desta guerra o Hamas ainda estiver de pé, sangrando mas invicto diante da poderosa máquina militar de Israel, será uma vitória fantástica, uma vitória do espírito sobre a matéria.

Na consciência do mundo o que será cauterizado será a imagem de Israel como um monstro manchado de sangue, disposto a cometer crimes de guerra a qualquer momento e que não respeita restrição moral alguma. As consequências serão muito graves, para nosso futuro em longo prazo, para nossa posição no mundo, para nossas chances de viver em paz e tranquilidade.

No final, esta guerra também é um crime contra nós mesmos, um crime contra o Estado de Israel.

10/1/2009

101