A partir daquele momento Sadat pôde falar ao público israelense e persuadi-lo. Os israelenses beberam suas palavras.

Até aquele momento havia total consenso em Israel de que não devíamos, em nenhum caso, "entregar" a península do Sinai. Que seria um suicídio nacional. Que perderíamos nossa "profundidade estratégica" essencial. Moshe Dayan, então ministro da Defesa e ídolo nacional, declarou que "preferia Sharm-al-Sheikh sem paz à paz sem Sharm-al-Sheikh". Ninguém estava disposto a abrir mão dos campos de petróleo do Sinai. Os ministros do Partido Trabalhista haviam construído um grande bloco de assentamentos no norte do Sinai, em torno de uma cidade recém-fundada, Yamit, considerada a mais bela e bem planejada de Israel. E dizia-se que Sadat havia colaborado com os nazistas na Segunda Guerra Mundial e que estivera preso por isso.

De repente, do dia para a noite, tudo mudou. Quem precisa do Sinai, quem precisa de Sharm-al-Sheikh (e quem lembra, hoje, que o lugar, então, chamava-se "Ophira"?), quem precisa de petróleo, quem precisa de Yamit - se se pode trocar tudo isso pela paz? Tudo aquilo sumiu. Tudo foi retirado. Nada restou, além das imagens ridículas de Tzachi Hanegbi sobre uma torre e dos discursos alucinados de Meir Kahane e sua promessa não cumprida de morrer lá, num bunker.

Não há dúvidas de que Sadat foi um gênio. Tinha aquela específica sabedoria egípcia, a sabedoria de seis mil anos de um povo que viu tudo e sobreviveu a tudo. Não estou dizendo que não tenha cometido erros graves, que não tenha criado ilusões, que não dissesse bobagens, ao lado de frases muito brilhantes, às vezes no mesmo fôlego.

Mas aqueles que o conheceram de perto viveram a sensação de estar na presença de uma figura histórica.

O que o levou a decidir viajar ao território inimigo? O próprio Sadat contou-me (como contou a outros) que teve uma espécie de iluminação mística. Que voltava de uma visita ao governante romeno. Que lhe fizera duas perguntas: "Pode-se confiar em Menachem Begin?" E: "Begin terá força para implementar suas decisões?" Nicolau Ceaucescu respondeu "sim" às duas perguntas.

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