A reação era previsível. Uma multidão de judeus furiosos o perseguiu e o cercou em uma casa árabe. Em um bairro árabe distante os alto-falantes das mesquitas anunciaram que árabes haviam sido mortos e que havia um árabe cercado, que corria risco de morte. Jovens árabes furiosos correram à casa da família árabe sitiada, mas foram barrados pela polícia. E descarregaram sua raiva destruindo carros e lojas de judeus. Jovens judeus, com o reforço de ativistas da extrema-direita, queimaram casas de moradores árabes, que se tornaram refugiados em sua própria cidade. Em poucos minutos, sessenta anos de coexistência foram apagados - prova de que naquela cidade "mista" não existe uma coexistência verdadeira, mas sim duas comunidades que se odeiam profundamente.

É fácil entender esse ódio. Como em outras cidades "mistas" e como, de fato, em todo o território de Israel, o público árabe é discriminado pelo Estado e pelas autoridades municipais. Os orçamentos são menores, as escolas têm condições inferiores, as moradias são mais precárias e os bairros, superpovoados.

Os cidadãos árabes são vítimas de um círculo vicioso. Vivem em cidades e bairros superpovoados, convertidos em guetos esquecidos. Quando o padrão de vida dos habitantes melhora, cria-se uma demanda desesperada por um ambiente melhor e melhores condições de moradia. Casais jovens deixam os bairros árabes subfinanciados e mudam-se para regiões predominantemente habitadas por judeus - o que imediatamente desperta ressentimento e oposição. O mesmo aconteceu com os afro-americanos nos Estados Unidos e antes acontecia com os judeus, tanto nos Estados Unidos como em outros países.

Todas as falas sobre igualdade, boa vizinhança e coexistência se evaporam quando famílias árabes vivem em um bairro judaico hostil. Sempre podem se encontrar motivos e a incursão de Tawfiq Jamal é apenas um exemplo particularmente infeliz.

Situações semelhantes existem em várias partes do mundo. Sensibilidades religiosas, nacionalistas e étnicas podem explodir a qualquer momento. Passaram-se 100 anos desde a emancipação dos escravos

119