das oliveiras de sua aldeia, da terra de seus antepassados. Esperança, de que o conflito chegasse ao fim. Apoio à paz entre os dois povos, baseada em justiça e respeito mútuo. No documentário da diretora francesa-israelense Simone Bitton, Darwish apontou o burrico como símbolo do povo palestino - um animal inteligente e paciente, que sempre consegue sobreviver.

Entendia a natureza do conflito mais claramente do que a maioria dos israelenses e dos palestinos. Dizia que o conflito era "uma luta entre duas memórias". A memória histórica dos palestinos colide com a memória histórica dos judeus. Só haverá paz quando cada lado entender a memória do outro - seus mitos, suas saudades secretas, suas esperanças e seus medos.

É esse o significado do que disse o general egípcio: a poesia manifesta os sentimentos mais profundos de um povo. E só a compreensão desses sentimentos pode abrir o caminho para uma paz verdadeira. Uma paz entre os líderes políticos não vale grande coisa se não houver paz entre os poetas e os públicos cujas emoções a poesia manifesta. Por isso Oslo foi um fracasso e por isso o "acordo de prateleira" que está sendo negociado agora também não tem valor algum. Pois não se baseiam nos sentimentos dos dois povos.

Há oito anos o então ministro da Educação, Yossi Sarid, tentou incluir dois poemas de Darwish no currículo escolar em Israel. Houve escândalo e o então primeiro-ministro, Ehud Barak, decidiu que "o público israelense não está preparado para isto". De fato disse que o público israelense não está preparado para a paz.

Talvez ainda seja verdade. Uma paz verdadeira, entre os povos, entre as crianças que nasceram nesta semana, no dia do funeral de Darwish, em Tel Aviv e em Ramallah, só será viável quando alunos árabes lerem o poema imortal de Chaim Nachman Bialik "O vale da morte", sobre o pogrom de Kishinev, e quando alunos israelenses lerem os versos de Darwish sobre a Naqba. E, sim, também os poemas da ira, inclusive o verso "Vão embora! E levem consigo seus mortos!".

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