Ante essa demonstração de autoconfiança e coragem pessoal, mais um gesto dramático tão típico do personagem, o Exército israelense reagiu com mais uma declaração vazia: "Não aconselhamos Nasrallah a sair de seu bunker!"

A Al Jazeera mostrou tudo ao vivo, hora a hora, para milhões de lares, do Marrocos ao Iraque e para todo o mundo muçulmano. Era impossível para o público árabe não se deixar levar pela emoção. Para um jovem em Riad, Cairo, Aman ou Bagdá, só uma reação era possível: "Este é o homem! Aí está o homem que está devolvendo a honra aos árabes, depois de décadas de derrotas e humilhações! Eis o homem, frente ao qual todos os líderes do mundo árabe são anões!" E quando Nasrallah anunciou que "a partir de agora chega ao fim a era da derrota dos árabes!", capturou o espírito daquele dia.

Desconfio que vários israelenses fizeram comparações pouco elogiosas entre esse homem e nossos próprios ministros, os campeões da verborragia oca. Comparado a eles, Nasrallah parece responsável, confiável, lógico e determinado, homem que não desperdiça palavras e não repete slogans vazios.

Na véspera daquela manifestação enorme Nasrallah se dirigiu ao público e proibiu tiros para o ar, frequentes em celebrações árabes. "Quem atirar estará atirando no meu peito, na minha cabeça, no meu manto!", disse. Não se disparou um tiro sequer.

Para o Líbano foi um dia histórico. Jamais aconteceu coisa semelhante: toda a elite política libanesa, sem exceção, estava no aeroporto de Beirute para dar as boas-vindas a Kuntar e ao mesmo tempo homenagear Nasrallah. Alguns rangiam os dentes, é claro, mas entenderam muito bem de que lado sopravam os ventos.

Lá estavam todos: o presidente do Líbano, o primeiro-ministro, todos os membros do novo Gabinete, os líderes de todos os partidos, todas as comunidades e todas as religiões, todos os ex-presidentes e ex-premiês. O sunita Saad Hariri, que acusou o Hezbollah de envolvimento no assassinato de seu pai; o druso Walid Jumblat, que mais de uma vez pediu o fim do Hezbollah; o cristão maronita Samir Geagea,

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