Hoje já está claro que o verdadeiro objetivo americano (como já afirmei nesta coluna) foi tomar posse da região petrolífera do mar Cáspio/Golfo Pérsico e estabelecer uma base permanente no centro dessa região. Esse objetivo já foi alcançado - os americanos falam hoje em permanecer no Iraque "por cem anos" e já tratam de fazer a partilha das imensas reservas de petróleo do Iraque entre as quatro ou cinco gigantes companhias americanas petrolíferas.

Mas essa guerra começou sem um raciocínio estratégico mais amplo e sem se considerar o mapa geopolítico. Não se sabe quem é o principal inimigo dos Estados Unidos na região nem está claro onde os esforços devem ser concentrados. A vantagem de dominar o Iraque pode ser neutralizada pela ascensão do Irã como potência nuclear, militar e política, com poder que suplantará os aliados dos Estados Unidos no mundo árabe.

E onde ficamos nós, os israelenses, nesse jogo?

Por muitos anos temos sido bombardeados por uma campanha de propaganda que apresenta o esforço nuclear iraniano como uma ameaça à existência de Israel. Esqueçam os palestinos, esqueçam o Hamas e o Hezbollah, esqueçam a Síria - o único perigo que ameaça a própria existência do Estado de Israel é a bomba nuclear iraniana.

Repito o que já disse antes: não sou vítima dessa angústia existencial. É verdade, a vida é melhor sem uma bomba nuclear iraniana e Ahmadinejad também não é muito simpático. Mas, na pior das hipóteses, teremos um "equilíbrio de terror" entre as duas nações, mais ou menos como houve entre a União Soviética e os Estados Unidos - o equilíbrio que nos salvou de uma terceira guerra mundial. Ou como o equilíbrio Índia-Paquistão, que dá a esses dois países, que se odeiam visceralmente, uma base para a reaproximação.

Tudo isso posto e considerado, atrevo-me a prever que não haverá um ataque militar contra o Irã este ano - nem dos americanos nem dos israelenses.

Enquanto escrevo estas linhas, sinto acender uma luzinha vermelha na minha cabeça. É relacionada a uma lembrança: quando jovem,

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