Na saída, cruzei com Issar. Ele lutava em outro batalhão, que naquela noite atacaria outra aldeia. Disse-lhe o nome do Estado e recomendei: "Cuide-se!"

Issar foi morto alguns dias depois. Por isso lembro-me dele como era naquele dia: um menino de 19 anos, um sabra alto, sorridente, cheio de inocência e alegria de viver.

Quanto mais nos aproximamos das festividades grandiosas do aniversário de 60 anos do Estado, mais uma pergunta me incomoda: se Issar abrisse os olhos e nos visse, o que pensaria do Estado que foi oficialmente criado naquele dia?

Veria um Estado que se desenvolveu muito mais do que nos seus sonhos mais loucos. De uma pequena comunidade de 635 mil pessoas (das quais mais de 6 mil morreriam com Issar naquela guerra), crescemos para mais de 7 milhões de habitantes. Os dois grandes milagres que geramos - o renascimento da língua hebraica e a instituição da democracia israelense - continuam sendo realidade. Nossa economia é forte e em alguns campos - a alta tecnologia, por exemplo - estamos entre os primeiros do mundo. Issar ficaria entusiasmado e orgulhoso.

Mas também sentiria que algo deu errado em nossa sociedade. O kibutz onde, naquele dia, armamos nossas pequenas barracas de acampamento tornou-se um empreendimento comercial como qualquer outro. A solidariedade social, da qual nos orgulhávamos tanto, desmoronou. Massas de adultos e crianças vivem abaixo da linha de pobreza, os idosos, os doentes e os desempregados estão entregues à própria sorte. A distância que separa pobres e ricos é uma das maiores do mundo desenvolvido. E nossa sociedade, que uma vez levantou a bandeira de igualdade e justiça, estala sua língua coletiva e dedica-se a outros assuntos.

Sobretudo, Issar ficaria chocado ao descobrir que a guerra brutal que o matou e me feriu, além de matar e ferir milhares de outros, continua a todo vapor. A guerra determina toda a vida da nação. Enche as primeiras páginas dos jornais e ocupa as manchetes dos noticiários.

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