Descobriria que nosso Exército, aquele que era "nós", tornou-se uma coisa bastante diferente, cuja principal tarefa é oprimir um outro povo.

Naquela noite realmente atacamos al-Qubab. Quando entramos, a aldeia já estava deserta. Invadi uma das casas. A chaleira ainda estava quente, a comida estava na mesa. Em uma das prateleiras achei algumas fotos: um homem que visivelmente havia penteado cuidadosamente os cabelos, uma mulher e duas crianças pequenas. Ainda guardo comigo essas fotos.

Suponho que na aldeia atacada por Issar naquela noite o quadro era semelhante. Os moradores - homens, mulheres, crianças - fugiram no último momento, deixando sua vida inteira para trás.

Não há como escapar do fato histórico: o Dia da Independência de Israel e a Nakba ("catástrofe") Palestina são dois lados da mesma moeda. Em 60 anos não conseguimos - de fato nem tentamos desatar este nó, criando uma outra realidade.

E, assim, a guerra continua.

Ao aproximar-se o sexagésimo Dia da Independência, um comitê se reuniu para escolher um símbolo para o evento. Aquele que escolheram parece apropriado para um evento da Coca-Cola ou do festival Eurovision da canção.

O verdadeiro símbolo do Estado de Israel é bastante diferente e nenhum comitê de burocratas precisou inventá-lo. Está fixado na terra e pode ser visto de longe: o Muro. O Muro de Separação.

Separação de quem, de quê?

Aparentemente, separa a israelense Kfar Sava e a vizinha palestina Qalqiliyah, fica entre Modi’in Illit e Bil’in. Entre o Estado de Israel (e mais algumas terras arrebatadas) e os Territórios Palestinos Ocupados. Mas, na realidade, separa dois mundos.

Na imaginação febril dos que acreditam no "choque de civilizações" - seja George W. Bush ou Osama bin Laden - o Muro é a fronteira entre dois titãs da história, a civilização ocidental e a

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