E, de fato, o impacto do "Dia da Terra" - como o evento ficou sendo chamado - superou até o impacto do massacre em Kafr Kassem em 1956 ou da matança durante os eventos de outubro de 2000.

As razões desse forte impacto remontam aos primeiros dias do Estado de Israel.

Depois da guerra de 1948 a comunidade árabe que restou em Israel era pequena, fraca e assustada. Não apenas cerca de 750 mil árabes haviam sido desenraizados do território que se tornou o Estado de Israel, mas aqueles que ficaram aqui não tinham uma liderança. As elites políticas, intelectuais e econômicas haviam desaparecido, a maioria delas desde os primeiros momentos da guerra. O vácuo foi preenchido, de certo modo, pelo Partido Comunista, cujos líderes foram autorizados a voltar do exterior - sobretudo para agradar a Stálin, que naquela época apoiava Israel.

Após um debate interno, os líderes do novo Estado decidiram conferir direitos de cidadania e de voto aos árabes no "Estado judaico". Esses direitos não eram óbvios. Mas o governo queria mostrar ao mundo um Estado democrático. Em minha opinião, a principal motivação para a decisão foi de política partidária: David Ben-Gurion acreditava que conseguiria levar os árabes a votar em seu próprio partido.

E, de fato, a grande maioria dos cidadãos árabes votou no Partido Trabalhista (que, então, se chamava Mapai) e em seus dois partidossatélites, criados especialmente para recolher os votos dos árabes. Não tinham escolha: viviam em estado de medo constante, sob os olhos vigilantes dos Serviços de Segurança (então chamados Shin Bet). Cada hamulab (família ampliada) árabe foi orientada exatamente em quem votar, ou no Partido Mapai ou em um dos partidos subsidiários. A cada lista eleitoral correspondiam duas cédulas eleitorais, uma em hebraico e outra em árabe, e, portanto, os árabes leais ao partido podiam escolher entre seis possibilidades em cada sessão eleitoral e, para o Shin Bet, era fácil garantir que cada hamulab votasse exatamente

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