É verdade que está em curso um lento processo de islamização em toda a região, da Turquia ao Iêmen e do Marrocos ao Iraque. É a reação da nova geração árabe ao fracasso do nacionalismo secular, que não resolveu seus problemas nacionais e sociais. Mas não foi a islamização que causou o terremoto na sociedade palestina.

- Sendo assim, por que o Hamas foi eleito?

Houve várias razões. A principal foi a convicção crescente, entre os palestinos, de que jamais obteriam qualquer coisa dos israelenses por meios não violentos. Após o assassinato de Yasser Arafat muitos palestinos acreditaram que se elegessem Mahmoud Abbas à presidência ele obteria de Israel e dos Estados Unidos o que não deram a Arafat. Descobriram que estava acontecendo o oposto: nenhuma negociação real, enquanto os assentamentos aumentavam dia a dia.

Pensaram com seus botões: se os meios pacíficos não funcionam, não existe alternativa aos meios violentos. E se houver guerra, não há guerreiro mais valente do que o Hamas.

E mais: a corrupção nos altos escalões do Fatah já alcançava tais dimensões que a maioria dos palestinos estava indignada. Enquanto Arafat estava vivo a corrupção era de certo modo tolerada, porque todos sabiam que o próprio Arafat era honesto e sua importância, decisiva para a luta nacional, era maior do que as falhas de sua administração. Após a morte de Arafat tornou-se impossível tolerar a corrupção. O Hamas, por sua vez, era considerado limpo e seus líderes eram considerados incorruptos. As instituições sociais e educacionais do Hamas, financiadas principalmente pela Arábia Saudita, eram amplamente respeitadas.

As divisões internas no Fatah também ajudaram os candidatos do Hamas.

O Hamas, é claro, não participara das eleições anteriores, mas presumia-se - inclusive membros do próprio Hamas presumiam - que o partido representava apenas 15-25 por cento dos eleitores.

- Pode-se racionalmente esperar que os próprios palestinos derrubem o Hamas?

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