Era um "terrorista". Não qualquer terrorista, um terrorista importante! Arquiterrorista! O próprio rei dos terroristas! A estatura do homem crescia de hora em hora, até alcançar proporções gigantescas. Comparado a ele, Osama bin Laden é um mero principiante. A lista de suas proezas aumentava a cada noticiário, a cada nova manchete.

Não há e jamais houve outro como ele. Viveu anos escondido. Mas nossos bons rapazes - muito, muito bons rapazes - não o esqueceram sequer por um momento. Trabalharam dia e noite, semanas e meses, anos e décadas, para encontrá-lo. "Conheciam-no melhor do que seus melhores amigos, mais do que ele conhecia a si próprio" (palavras citadas verbatim, de um respeitado colunista do jornal Haaretz, festejando como todos os seus colegas).

Sim, um comentarista ocidental, estraga-prazeres, argumentou no canal Al Jazeera que Mughniyeh desaparecera do noticiário porque deixara de ter importância, que seus grandes dias como terrorista foram nos anos 1980 e 1990, quando sequestrou um avião e derrubou o quartel-general dos marines em Beirute e instituições israelenses no exterior. Desde que o Hezbollah converteu-se em Estado-dentrodo-Estado, com uma espécie de exército regular, ele - segundo essa versão - tornou-se desnecessário.

Mas não importa. A pessoa Mughniyeh desapareceu e a lenda Mughniyeh assumiu seu lugar, um terrorista mitológico de dimensões internacionais, há muito tempo marcado como "filho da morte" (quer dizer, alguém que merece morrer), conforme declarou, pela televisão, um outro general da reserva. Sua "liquidação" tornou-se um feito enorme, quase sobrenatural e muito mais importante do que a Segunda Guerra do Líbano, na qual não fomos tão bem-sucedidos. A "liquidação" é pelo menos equivalente à gloriosa operação Entebbe, se não mais.

Sim, a Bíblia nos ordena: "Se cair teu inimigo, não te alegres se sucumbe, não rejubile teu coração, não suceda que, ao vê-lo, o Senhor se desagrade" (Provérbios, 24:17). Mas não era um inimigo qualquer, era um supersuperinimigo e, portanto, o Senhor certamente nos

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