perdoará por dançarmos de alegria, de um talk-show para outro, de uma edição para outra, de discurso em discurso, contanto que não distribuamos doces nas ruas - mesmo que o governo israelense negue em voz baixa que tenhamos sido nós que "liquidamos" o homem.

Por coincidência, a "liquidação" foi executada apenas alguns dias depois de eu ter escrito um artigo sobre a incapacidade das forças de ocupação de compreender a lógica interna de organizações de resistência. A "liquidação" de Mughniyeh é um exemplo marcante dessa incapacidade. (Sim, Israel abriu mão da ocupação do sul do Líbano há alguns anos, mas a relação entre as partes permaneceu como era.)

Aos olhos dos líderes israelenses, a "liquidação" foi um sucesso formidável. Conseguimos "decapitar a serpente" (outra manchete do Haaretz). Infligimos um dano tão grande ao Hezbollah que é irreparável. "Não foi vingança, foi uma ação preventiva", nas palavras de outro repórter (também do Haaretz). Um feito tão importante que supera a inevitável vingança, por maior que seja o número de vítimas.

Do ponto de vista do Hezbollah as coisas são bastante diferentes. A organização ganhou mais um precioso patrimônio: um herói nacional, cujo nome se torna conhecido do Irã ao Marrocos. O Mughniyeh "liquidado" vale mais do que o Mughniyeh vivo, fosse qual fosse o seu status real no fim de sua vida.

Basta lembrar o que aconteceu aqui em 1942, quando os britânicos "liquidaram" Abraham Stern (codinome Ya’ir): de sua morte nasceu o grupo Lehi (conhecido como Gangue Stern) e tornou-se, talvez, a organização terrorista mais eficaz do século XX.

Portanto, o Hezbollah não tem interesse algum em diminuir o status do liquidado. Ao contrário, Hassan Nasrallah, exatamente como Ehud Olmert, tem todo o interesse em inflar sua importância para que alcance proporções gigantescas.

Se o Hezbollah recentemente andou afastado dos holofotes do mundo árabe, agora está de volta, com todo o vigor. Quase todos os canais árabes devotaram horas de programação ao "irmão, mártir, comandante Imad Mughniyeh al-Hajj Raduan".

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