Os chefes militares, que geralmente anseiam por batalhas, não parecem muito entusiasmados desta vez. Nem um pouco. Eles desejam evitar o combate a quase qualquer custo. Mas são fatalistas. Agora tudo depende da sorte, e a sorte é cega. Por exemplo, se amanhã um foguete Qassam cair sobre uma casa em Sderot e matar uma família inteira, haverá tal comoção em Israel que o governo poderá se sentir obrigado a dar a ordem, por mais que o ataque não seja sua escolha preferencial.

A Faixa de Gaza é um pesadelo para qualquer estrategista israelense, político ou militar. A Faixa mede cerca de 40 quilômetros de comprimento, por 10 quilômetros de largura. Nesses 360 quilômetros quadrados desérticos e áridos, equivalentes a menos do que o dobro da área de Washington DC, vivem 1,5 milhão de seres humanos, quase todos destituídos, que nada têm a perder, comandados por um movimento religioso militante. (Vale lembrar que na guerra de 1948 a comunidade judaica na Palestina mal chegava a 650 mil pessoas.)

Já há meses os líderes do Hamas em Gaza vêm estocando armas, contrabandeadas para a região por intermédio dos muitos túneis que atravessam a fronteira com o Egito (como nós contrabandeamos armas para o país às vésperas da guerra de 1948). É verdade: os combatentes do Hamas não têm artilharia nem tanques, mas já possuem armas antitanques muito eficazes.

Segundo estimativas de nossos militares, a invasão da Faixa de Gaza pode custar a vida de uma centena de soldados israelenses e de milhares de combatentes e civis palestinos. O Exército de Israel utilizará tanques e escavadeiras blindadas e o mundo verá imagens terríveis - o mesmo tipo de imagens que nosso Exército tentou esconder e que geraram protestos internacionais contra "o massacre de Jenin", em 2002, durante a operação "Barreira de Proteção".

Ninguém pode prever o desenrolar dessa operação. Talvez a resistência palestina desabe e as previsões de muitas baixas israelenses não se confirmem. Mas também é possível que Gaza se torne uma

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