qualquer de seus antecessores ou sucessores. O primeiro-ministro que me autorizou a prosseguir com meus contatos secretos com líderes da OLP quando esses contatos constituíam um crime grave. O ministro da Defesa que instruiu os soldados a "quebrar braços e pernas", ordem que foi meticulosamente executada. O homem que reconheceu a OLP e apertou a mão de Yasser Arafat.

Ele era tudo isso e a lista continua.

Sobretudo, Rabin foi o representante típico da minha geração, a "geração de 1948", que não por acaso ainda é definida por uma guerra. Era o tempo da inocência. A inocência dos combatentes e do Yeshuv (a sociedade hebraica na Palestina do pré-Estado). Em retrospecto, os eventos daquele tempo - as ações das organizações clandestinas, as operações da guerra - assumem um aspecto diferente, um quadro com muitas sombras. Mas é preciso lembrar: não víamos as coisas assim quando elas aconteceram. De forma alguma.

Rabin personificou a inocência da geração que acreditava, de todo o coração, estar sacrificando a vida pela mais justa das causas - a existência do Yeshuv, a salvação dos judeus da Europa, nossa luta por independência nacional. Sem essa convicção absoluta, somada à total ignorância em relação ao outro lado, não poderíamos enfrentar a prova de 1948 - prova na qual uma parte significativa de nossa faixa etária foi morta ou ferida.

Essa geração idealizava um certo tipo de personalidade - o Sabra (literalmente: planta frutífera e espinhosa), uma figura mítica que teve uma influência imensa na formação daquela geração. (Eu mesmo ajudei a alimentar esse mito.) O Sabra devia ter a cabeça erguida, física e mentalmente, e ser livre dos complexos dos judeus do "exílio" ("exilado" era o mais grave insulto em nosso vocabulário). O Sabra era honesto, confiável, prático, natural, uma pessoa que sempre ia direto ao ponto, detestava os maneirismos ocos, a conversa fiada e as frases teatrais que, na linguagem coloquial, chamávamos de "sionismo". Antes de sabermos sobre o Holocausto,

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