fugiram por livre e espontânea vontade. Seus líderes os chamaram a deixar suas casas, para retornar depois, com os vitoriosos exércitos árabes. De fato, nunca se encontrou qualquer evidência que comprovasse essa afirmação absurda, mas ela foi suficiente para aliviar nossa consciência até hoje.

Pode-se perguntar: por que os refugiados não foram autorizados a voltar para suas casas após o fim da guerra? Ora, eles mesmos, em 1947, rejeitaram a partilha proposta pelas Nações Unidas e começaram a guerra. Portanto, se perderam 78 por cento do próprio país, só podem culpar a si mesmos.

Então veio a Guerra Fria. Estávamos, é claro, do lado do "Mundo Livre", enquanto o grande líder árabe, Gamai Abd-al-Nasser, recebia armas do bloco soviético. (É verdade, na guerra de 1948 recebemos armas dos soviéticos, mas isso não importa.) Estava tudo bem claro: não vale a pena falar com os árabes, porque eles apoiam a tirania comunista.

Mas o bloco soviético entrou em colapso. "A organização terrorista chamada OLP", como Menachem Begin costumava dizer, reconheceu Israel e assinou o Acordo de Oslo. Era necessário encontrar outro pretexto para explicar nossa indisposição a devolver ao povo palestino os territórios ocupados.

A salvação veio dos Estados Unidos: um professor, de nome Samuel Huntington, escreveu um livro sobre o "choque de civilizações". E, assim, encontramos a mãe de todos os pretextos.

Segundo essa teoria, o arqui-inimigo é o Islã. A civilização ocidental, judeu-cristã, liberal, democrática, tolerante, está sendo atacada pelo monstro islâmico, fanático, terrorista, sanguinário.

O Islã é sanguinário por natureza. De fato, "muçulmano" e "terrorista" são sinônimos. Todo muçulmano é terrorista e todo terrorista é muçulmano.

Uma pessoa cética pode perguntar: como pôde acontecer que a maravilhosa civilização ocidental tenha gerado a Inquisição, os

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