pogroms, a queima de bruxas, a aniquilação dos povos nativos da América, o Holocausto, as limpezas étnicas e outras inumeráveis atrocidades? Mas isso faz parte do passado. Hoje a civilização ocidental é a encarnação da liberdade e do progresso.

O professor Huntington não pensou especificamente em nós. Sua tarefa era atender a uma urgência peculiar dos Estados Unidos: o império americano sempre necessita de um inimigo virtual de dimensões globais, um único inimigo que inclua todos os oponentes dos Estados Unidos ao redor do mundo. Os comunistas fizeram esse papel - o mundo era dividido entre os mocinhos (os americanos e seus aliados) e os bandidos (os comunistas). Quem se opusesse aos interesses americanos virava automaticamente comunista - Nelson Mandela na África do Sul, Salvador Allende no Chile, Fidel Castro em Cuba, enquanto os chefes do apartheid, os esquadrões da morte de Augusto Pinochet e a polícia secreta do xá do Irã pertenciam, como nós, ao Mundo Livre.

Quando o império comunista ruiu, os Estados Unidos, de repente, ficaram sem um inimigo global. Agora esse vazio foi preenchido pelos muçulmanos terroristas. Não só Osama bin Laden, mas também os combatentes pela liberdade na Chechênia, os jovens e irados norteafricanos dos bairros pobres de Paris, a Guarda Revolucionária Iraniana, os rebeldes nas Filipinas.

Assim a visão de mundo americana se reformulou: um mundo do bem (a civilização ocidental) e um mundo do mal (a civilização islâmica). Diplomatas ainda tomam o cuidado de fazer a distinção entre "islamistas radicais" e "muçulmanos moderados", mas só para salvar as aparências. Cá entre nós, é claro que sabemos que são todos como Osama bin Laden. São todos iguais.

Desse modo, uma grande parte do mundo, uma multiplicidade de países muito diferentes e uma grande religião, com muitas tendências e mesmo correntes opostas, que deram ao mundo tesouros científicos e culturais inigualáveis são jogadas num mesmo saco, como se tudo fosse uma coisa só.

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