apareceu no convés, foi salvo por pouco, quando seus homens o jogaram na água.) Por que Abbas não ousa fazer o mesmo com o Hamas?

Essa pergunta ignora um ponto importante: Ben-Gurion só usou o "canhão sagrado" (como o chamava) depois de o Estado de Israel já estar instituído. Isso faz toda a diferença.

O ódio amargo entre a Haganah e o Irgun, e também, em certa medida, o Irgun e o grupo Stern, só cedeu gradualmente durante os primeiros anos do Estado de Israel. Hoje em dia ruas em Tel Aviv têm os nomes dos comandantes das três organizações.

Mais importante: hoje os historiadores tendem a ver a luta dos três grupos como uma única campanha, como se houvesse uma coordenação entre eles. As ações "terroristas" dos grupos Irgun e Stern complementaram a campanha de imigração ilegal do Haganah. A popularidade crescente dos grupos Irgun e Stern convenceu os britânicos de que tinham de estabelecer um modus vivendi com a liderança oficial sionista antes que os "extremistas" tomassem o controle da comunidade hebraica inteira.

Essa analogia evidentemente tem suas limitações. Ben-Gurion era um líder forte e autoritário, como Arafat; já a posição de Abbas é muito mais fraca. Menachem Begin estava determinado a impedir, a qualquer custo, uma guerra fratricida, mesmo quando seus homens foram capturados e entregues aos britânicos. Não creio que os líderes do Hamas reagiriam desse modo em uma situação semelhante. Diferentemente do Irgun e do partido que lhe dava apoio político, o Hamas obteve a maioria em eleições democráticas.

Mas é possível que, no futuro, depois de constituído o Estado palestino, historiadores digam que Fatah, Hamas e o Jihad Islâmico foram forças complementares. O presidente Bush está pressionando Ehud Olmert para que faça concessões a Mahmoud Abbas, para impedir que o Hamas tome o total controle da Cisjordânia. Talvez, justamente graças à transformação de Gaza em um Hamastão, Abbas consiga utilizar sua fraqueza para obter coisas que não conseguiria obter por outras vias.

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