Rachel*

Eu tive a felicidade absoluta de viver com Rachel Avnery por 58 anos. No último sábado, despedi-me do seu corpo. Ela estava tão bela na morte quanto era em vida. Eu não conseguia desviar o olhar do seu rosto.

Escrevo agora para ajudar a mim mesmo a aceitar o inaceitável. E peço a sua compreensão.

Se um ser humano pudesse ser resumido numa única palavra, a dela seria: empatia.

Ela tinha uma capacidade incrível de sentir as emoções dos outros. Uma bênção e ao mesmo tempo uma maldição. Quando alguém estava infeliz, ela também ficava. Ninguém conseguia esconder-lhe seus sentimentos mais íntimos.

Sua empatia tocava todos que cruzavam seu caminho. Mesmo nos últimos meses, as enfermeiras logo começavam a lhe contar as histórias de suas vidas.

Certa vez, fomos ver um filme que se passava numa cidadezinha eslovaca durante o Holocausto. Uma velha solitária não entendeu o que estava acontecendo quando os judeus foram convocados para deportação para os campos da morte; os vizinhos tiveram de ajudá-la a chegar ao local de arregimentação.

*Tradução de Clóvis Marques.

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