Herzl reagia assim à crescente onda de nacionalismo que começava na época a emergir na Europa. Movimentos nacionalistas pipocavam em todo o continente, da Irlanda à Lituânia e à Sérvia. Ele se deu conta de que todas essas "novas" nações rejeitavam os judeus, e de que a vida dos judeus na Europa tornava-se cada vez mais perigosa. Para ele, a solução seria que os judeus se constituíssem numa nova nação e criassem um Estado nacional próprio. A localização desse Estado, para ele, era secundária.
Herzl provavelmente não sabia que a essa altura a ideia nacional já se apoderara da América Latina. Com efeito, certos historiadores consideram que o novo nacionalismo na verdade nasceu na América Latina, só posteriormente se espraiando para a Europa.
Uma especulação interessante: que teria acontecido se Herzl tivesse conseguido concretizar sua ideia inicial? Haveria hoje na América do Sul um Estado judaico como Israel? Os latino-americanos estariam hoje se unindo contra o implante "estrangeiro", como fizeram os árabes?
Felizmente (para eles), os latino-americanos foram poupados dessa provação. Esses 115 anos de luta, guerras, implacável inimizade e infindável derramamento de sangue couberam ao Oriente Médio.
Quando eu era soldado na guerra de 1948, na qual o Estado de Israel nasceu e metade do povo palestino perdeu suas casas, convenci-me de que a paz era o único objetivo pelo qual valeria a pena viver. Convenci-me também de que a única maneira de alcançar a paz seria ajudar os palestinos a criar seu próprio Estado nacional, lado a lado com Israel. A isto se dá hoje o nome de "solução dos dois Estados".
Quando meus amigos e eu começamos a fazer campanha por esta solução em 1949, não havia em Israel e no mundo todo sequer uma centena de pessoas que acreditassem nessa ideia. Hoje, é mundial o consenso em seu favor. A questão é como concretizá-la, frente à inflexível oposição da atual liderança de direita em Israel.