Ainda me recuperando das feridas e trajando uniforme, encontreime com vários jovens, árabes e judeus, para planejar nosso rumo. Estávamos muito otimistas. Tudo parecia possível.
O que planejávamos era um grande ato de confraternização. Judeus e árabes se haviam combatido valentemente, cada lado lutando pelo que considerava ser seus direitos nacionais. Pois agora chegara o momento de buscar a paz.
A ideia da paz entre dois nobres combatentes depois da batalha é tão antiga quanto a cultura semítica. No épico Gilgamesh, escrito há mais de 3 mil anos, o rei de Uruk (no atual Iraque) combate o selvagem Enkidu, alguém igual em força e coragem, e depois dessa épica luta eles se tornam irmãos de sangue.
Nós tínhamos combatido duramente e havíamos vencido. Os palestinos tinham perdido tudo. A parte da Palestina atribuída pela ONU ao seu Estado havia sido engolida por Israel, Jordânia e Egito, eles tinham ficado sem nada. Metade do povo palestino havia sido expulso de suas terras, tornando-se refugiados.
Era, pensávamos nós, o momento para o vencedor surpreender o mundo com um ato de magnanimidade e sabedoria, oferecendose para ajudar os palestinos a criar seu Estado em troca da paz. Poderíamos assim construir uma amizade para durar por gerações.
Dezoito anos depois, eu voltei a propor a ideia em circunstâncias semelhantes. Tínhamos obtido uma impressionante vitória contra os exércitos árabes na Guerra dos Seis Dias, o Oriente Médio estava em estado de choque. Uma oferta israelense para que os palestinos criassem seu Estado teria eletrizado a região.
Estou contando essa história (mais uma vez) para deixar claro: ao ser concebida pela primeira vez, depois de 1948, a "Solução dos dois Estados" era uma ideia de reconciliação, confraternização e respeito mútuo.
Imaginávamos dois Estados convivendo lado a lado, com fronteiras abertas para a livre circulação de pessoas e bens. Jerusalém, a capital conjunta, simbolizaria o espírito dessa mudança histórica. A Palestina se tornaria a ponte entre o novo Israel e o mundo árabe,