unidos pelo bem comum. Falamos de uma "União Semítica" muito antes de a União Europeia tornar-se realidade.
Quando a Solução dos Dois Estados, que antes era a ideia de poucos visionários (ou loucos), tornou-se extraordinariamente um consenso mundial, era este o contexto. Não como conspiração contra Israel, mas como base sólida para uma paz verdadeira.
Essa visão foi firmemente rejeitada por David Ben-Gurion, na época o líder incontestado de Israel. Ele estava ocupado espalhando novos imigrantes judeus pelas vastas áreas expropriadas dos árabes e, de qualquer maneira, não acreditava em paz com os árabes. Estabeleceu o rumo que sucessivos governos israelenses, inclusive o atual, vêm seguindo desde então.
Do lado árabe, sempre houve apoio a essa visão. Já na Conferência de Lausanne, em 1949, uma delegação palestina extraoficial propôs secretamente o início de negociações diretas, mas foi duramente rechaçada pelo delegado israelense, Eliyahu Sasson, por ordens diretas de Ben-Gurion (como eu viria a saber dele próprio mais tarde).
Yasser Arafat disse-me várias vezes - de 1982 até sua morte em 2004 - que apoiaria uma solução do tipo "Benelux" (o modelo da união entre a Bélgica, a Holanda e Luxemburgo), que incluiria Israel, a Palestina e a Jordânia ("e talvez também o Líbano, por que não?").
Fala-se de todas as oportunidades de paz perdidas por Israel ao longo dos anos. Pura bobagem: pode-se perder oportunidades no caminho para um objetivo desejado, mas não quando se abomina o objetivo.
Ben-Gurion considerava um Estado palestino independente como perigo mortal para Israel. Portanto fez um pacto secreto com o rei Abdallah I, e os dois dividiram entre eles o território destinado pelo plano da partilha da ONU ao Estado árabe palestino. Todos os sucessores de Ben-Gurion herdaram esse mesmo dogma: um Estado palestino seria um terrível perigo. Assim optaram pela chamada "opção jordaniana": manter o que resta da Palestina sob o dominio do monarca jordaniano, que nem é um palestino (nem sequer jordaniano, pois sua família vem de Meca).