A direita opôs-se veementemente. Para a direita, esse seria um golpe da esquerda para demarcar fronteiras permanentes e que contribuiria para promover a solução de Dois Estados, a qual seria (como ainda é) uma ameaça existencial aos planos da mesma direita.
Mas, de repente, a direita mudou de tom. Perceberam que o Muro seria uma excelente oportunidade para anexar grandes porções de terras da Cisjordânia e entregá-las a colonos judeus. E aconteceu: o Muro não foi construído ao longo da Linha Verde, mas bem dentro do território da Cisjordânia, tomando grandes porções de terra de aldeias palestinas.
Hoje em dia há manifestações da esquerda, todas as semanas, de protesto contra o Muro; a direita manda soldados; os soldados atiram contra os manifestantes; e a solução de Dois Estados permanece esquecida.
E agora a direita "descobriu" a solução de Um Estado. Meu nariz não para de coçar.
Um dos primeiros direitistas a falar sobre Um Estado foi Moshe Arens, ex-ministro da Defesa. Arens é extremista de direita, membro fanático do Partido Likud. Pôs-se a falar sobre Um Estado, do mar Mediterrâneo ao rio Jordão, no qual seriam garantidos plenos direitos aos palestinos, inclusive direitos de cidadania e de voto.
Esfreguei os olhos. Seria o mesmo Arens? O que teria acontecido? Mas o mistério logo encontrou solução, solução simples.
Arens e seu grupo enfrentam um problema matemático que parece insolúvel: têm de converter o triângulo em círculo.
O projeto deles tem três lados: (a) um Estado judeu, (b) todo o "Grande Israel" e (c) Democracia. Como transformar esse triângulo em um círculo?
Entre o mar Mediterrâneo e o rio Jordão vivem hoje cerca de 5,7 milhões de judeus e 5,2 milhões de palestinos (incluídos os habitantes da Cisjordânia, da Faixa de Gaza, de Jerusalém Oriental e os cidadãos árabes-israelenses. E sem incluir, é claro, os milhões de refugiados palestinos que vivem na diáspora).