E aqui estava ele. O inacreditável estava acontecendo diante de nossos olhos. Uma data inesquecível: 17 de novembro de 1977. Toda a liderança israelense à espera, na pista. O avião egípcio pousou e se aproximou devagar do tapete vermelho. As escadas foram conectadas. A atmosfera era surreal. Então abriu-se a porta e lá estava o líder egípcio, magro, ereto e solene. Os corneteiros do Exército israelense soaram a saudação. Um momento inesquecível.
Procurei um momento histórico comparável àquele e não encontrei. Poderia até ser comparado aos primeiros passos do homem na Lua.
O feito de Anwar Sadat foi sem precedentes.
Esta semana me lembrei daquele dia em um contexto atual. Estava com um grupo de amigos discutindo, como sempre, as chances de paz. Alguém disse que as negociações não darão qualquer fruto se não conseguirmos mudar a atitude da maioria dos israelenses em relação aos palestinos. Outro disse que não acreditava que a paz fosse possível e acrescentou que nem uma crise séria ajudaria - porque, passada a crise, todos voltariam às opiniões iniciais, como se nada tivesse acontecido.
Eu disse que grande parte das opiniões não se baseia no pensamento racional, mas sim em emoção. Se há contradição entre razão e emoção, o pensamento racional subordina-se ao padrão emocional existente. Portanto, para conseguir realmente mudar a opinião de alguém, é preciso mobilizar também a emoção.
Precisei de um exemplo concreto e lembrei-me de Sadat.
Sadat fez exatamente isso. Se dirigiu às emoções dos israelenses.
O feito extraordinário foi o choque emocional, que atingiu também a consciência, sem o quê a paz com o Egito não teria sido possível. Sadat capturou os corações de um povo inteiro. Atitudes emocionais, petrificadas há décadas, derreteram como manteiga ao sol do meiodia, abrindo caminho para um modo completamente novo de ver as coisas. Israelenses que odiavam os egípcios - de fato, odiavam todos os árabes - apaixonaram-se por Sadat, amor à primeira vista.