Então, sobrevoando o monte Ararat na Turquia, teve uma ideia: por que não ir a Jerusalém e falar diretamente aos israelenses, na casa deles?
É uma boa história, mas não explica tudo. Sadat não era ingênuo nem foi homem de apostas amalucadas. Antes do gesto público, manteve negociações secretas com Begin. Hassan Tohami, viceprimeiro-ministro egípcio, foi enviado a um encontro, no Marrocos, com Moshe Dayan, então ministro das Relações Exteriores de Begin. Dayan disse-lhe claramente que Begin estava disposto á devolver todo o Sinai, até o último grão de areia.
(Quando publiquei isso, há muito tempo, ambos os lados negaram. No entanto, recentemente o general Binyamin Gibli, confidente de Dayan, confirmou os fatos, pouco antes de morrer.)
Em palavras simples: antes do gesto dramático, antes de iniciar oficialmente qualquer negociação, Sadat já sabia que receberia de volta todos os territórios egípcios ocupados por Israel. Estava andando sobre terra bem firme.
E esse é o outro lado da moeda, o lado israelense. A iniciativa de Sadat jamais teria sido bem-sucedida sem Menachem Begin.
Quando os vi lado a lado, ocorreu-me que jamais vira dois homens mais diferentes um do outro.
Sadat era uma pessoa impulsiva, um homem de visão muito ampla, que não dava atenção aos detalhes. Acreditava nas pessoas. Um egípcio típico, um menino da aldeia, moreno (herdou a pele escura da mãe sudanesa).
Begin, um judeu típico da Europa Oriental. De fato nunca se tornou israelense. Tinha temperamento de advogado, atento a detalhes, desconfiado.
Mas havia nos dois um traço comum: a paixão pelos gestos dramáticos. Adoravam os grandes gestos e confiavam em sua eficácia. Ambos tinham a consciência de serem atores no palco da história. E tinham o dom de tocar as emoções mais profundas das pessoas.