Diferentemente de Sadat, Begin tinha uma ideologia rígida e fixa. Essa ideologia expressava-se num específico mapa da Terra de Israel, traçado pelos britânicos quando receberam o Mandato sobre o país. Esse mapa nada tinha a ver com a Terra Santa da Bíblia, mas foi adotado também por Vladimir Jabotinsky e incorporado à bandeira do movimento clandestino Irgun muito antes de Begin assumir o comando.

Por esse mapa a terra do outro lado do rio Jordão (hoje o reino Hachemita da Jordânia) também pertenceria à Terra de Israel. Mas o Sinai, não. Nem as colinas de Golã. Assim, foi fácil para Begin devolver o Sinai e, penso eu, também teria sido fácil para ele devolver o Golã, não tivessem os eventos tomado outro rumo.

Porém, Begin era incapaz de devolver a Cisjordânia. Autonomia aos habitantes - sim. Tratamento justo para os árabes naquela área - por que não? Afinal, o próprio Jabotinsky aceitava que se o presidente do Estado judeu fosse judeu, o primeiro-ministro seria árabe e vice-versa. Mas sair da Cisjordânia? Nem pensar!

Sadat tinha certeza de que poderia convencer Begin a concordar com o estabelecimento de um Estado palestino. Begin de fato reconheceu oficialmente o "povo palestino", mas acrescentou imediatamente que se referia aos "árabes do Eretz Israel" (Israel inteiro). Mais tarde, os egípcios convenceram-se de que Israel traíra a confiança deles. Dayan renunciou, em sinal de protesto, quando percebeu que Begin não tinha qualquer intenção de cumprir a parte do acordo relacionada aos palestinos. Mas quem conhecesse Begin saberia que em momento algum ele poderia agir de outra maneira. (Gastei várias horas tentando explicar a Boutros Boutros-Ghali, chanceler egípcio em exercício, pessoa extremamente inteligente, o que era Begin, o que significava seu mapa do Eretz Israel e o que significava "autonomia" no dicionário do Partido Likud.)

A questão palestina foi o pomo da discórdia que fez descarrilhar a paz entre Egito e Israel.

113