Saiu dos trilhos, talvez, mas mesmo assim foi imenso sucesso.
Basta imaginar o que teria acontecido se Sadat não tivesse empreendido aquela viagem histórica. Quantas outras guerras teriam eclodido? Quantos soldados e civis, dos dois lados, teriam sido mortos e mutilados? Quantas centenas de bilhões seríamos obrigados a gastar para defender nossa fronteira sul?
Um pequeno exemplo: há alguns dias a Marinha egípcia fez um exercício, o maior em toda sua história. Nos jornais israelenses dedicaram ao fato apenas umas poucas linhas. Se não houvesse paz, todos os alarmes em Israel teriam disparado. A Marinha egípcia é maior do que a nossa e, no passado, nos deu vários golpes dolorosos.
Naquele momento houve quem dissesse "essa é a paz de Sadat e desaparecerá no momento em que Sadat se for. Devolvemos todo o Sinai e, amanhã, algum novo faraó egípcio nos atacará". Nada disso aconteceu. Sadat foi assassinado e seu sucessor está mantendo a paz.
Mas muito mais importante até do que a alteração no mapa político foi a mudança psicológica. Como o próprio Sadat costumava dizer, a dimensão psicológica do conflito é muito mais importante do que todos os demais fatores somados.
É verdade que Sadat não conseguiu mudar a atitude dos israelenses em relação ao mundo árabe nem, em especial, em relação ao povo palestino. A oposição emocional era muito forte e Begin perdeu força antes de começar a lidar com a questão palestina. Além disso, a atitude dos israelenses em relação à Cisjordânia é diferente da atitude em relação ao deserto do Sinai. Essa parte do conflito é ainda mais longa e mais profunda do que o conflito amargo com o Egito.
Mas Sadat provou algo que, aos meus olhos, é mais importante do que tudo: que é possível mudar o estado emocional de todo um povo. É possível cortar o nó psicológico com um só golpe. Para tanto é preciso que haja líderes, dos dois lados. Esses líderes podem aparecer de repente, nos lugares e nos momentos mais inesperados. Barack Obama pode vir a ser uma espécie de Sadat dos Estados Unidos.