pois alguns mandamentos só se aplicam à Terra de Israel. Alguns rabinos acreditavam que Aco não pertencia, outros afirmavam que ao menos uma parte da cidade pertencia à Terra de Israel. (O que não nos impedia de cantar, quando jovens, que "Aco também pertence ao Eretz Israel" - em referência à antiga fortaleza dos Cruzados, à beira-mar, onde os britânicos mantinham prisioneiros das organizações judaicas clandestinas.)
Na guerra de 1948 Aco foi ocupada pelas forças israelenses e desde então vive sob lei israelense: 60 anos, de uma história de mais de cinco mil anos.
Esse é o cenário dos acontecimentos da semana passada em Aco.
Para os habitantes árabes Aco é a cidade de seus antepassados, ocupada à força pelos judeus. Para os habitantes judeus é uma cidade judaica, na qual os árabes são, no máximo, uma minoria tolerada.
Por muitos anos Aco viveu encoberta por uma fina capa de hipocrisia. Todos elogiavam e celebravam a maravilhosa coexistência na cidade. Até que se rasgou a capa e foi exposta a verdade nua e crua.
Sou uma pessoa totalmente secular. Sempre defendi a completa separação entre Estado e religião, mesmo em tempos em que a ideia era considerada loucura. Mas jamais me passou pela cabeça dirigir um carro no Yom Kippur. Não há lei que o proíba, pois nenhuma lei é necessária.
Para um judeu tradicional, o Yom Kippur é um dia como nenhum outro. Mesmo quem não acredita que nesse dia Deus toma a decisão de vida ou morte de todas as pessoas para o ano seguinte e registra tudo em um grande livro sente que é preciso respeitar a fé daqueles que creem. Eu não passaria de carro em um bairro judaico nesse dia, assim como não comeria em público, durante o Ramadã, em um bairro árabe.
Difícil saber o que pensava o motorista árabe Tawfic Jamal quando entrou com seu carro naquele bairro predominantemente judaico no Yom Kippur. É razoável supor que não o tenha feito com má intenção, como provocação; pode ter acontecido por estupidez ou descuido.