demais. Era o coração nacional se confrontando com a razão nacional. (Hoje, após a morte de ambos, esse debate histórico ainda não foi concluído.)

Desde aquela época, Darwish viveu em Paris, Aman e Ramallah - o palestino errante, que substituiu o judeu errante.

Nunca quis ser o poeta nacional. Não queria ser um poeta político, mas sim lírico, um poeta do amor. Mas quando tentava tomar esse rumo, o longo braço do destino dos palestinos o arrastava de volta.

Não tenho competência para avaliar seus poemas ou sua grandeza como poeta. Reconhecidos especialistas em língua árabe ainda discutem furiosamente o significado de seus versos, suas nuances e camadas, imagens e metáforas. Era um mestre em árabe clássico e se sentia igualmente à vontade com a poesia ocidental e israelense. Para muitos Darwish foi o maior poeta árabe e dos maiores de nossos tempos.

Com a poesia ele conseguiu fazer o que ninguém conseguira por outros meios: unir todas as partes do povo palestino fragmentado na Cisjordânia, na Faixa de Gaza, em Israel, nos campos de refugiados e em toda a diáspora. Darwish pertencia a todos os palestinos. Os refugiados podiam identificar-se com ele, porque era um refugiado, os cidadãos palestinos de Israel também, porque era um deles, assim como os habitantes dos territórios palestinos ocupados, pois lutou contra a ocupação.

Esta semana alguns integrantes da Autoridade Palestina tentaram explorá-lo na luta contra o Hamas. Não acredito que Darwish concordaria com isso. Embora fosse um palestino absolutamente secular e muito distante do mundo religioso do Hamas, ele expressava os sentimentos de todos os palestinos. Seus poemas também repercutiam na alma de membros do Hamas em Gaza.

Darwish foi o poeta da ira, da saudade, da esperança e da paz. Essas eram as cordas de seu violino.

Ira, pela injustiça cometida contra o povo palestino e contra cada filho da Palestina, individualmente. Saudade, do "café de minha mãe",

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