Sem entender e encarar com coragem a ira flamejante da Naqba e suas consequências não entenderemos as raízes do conflito e não seremos capazes de solucioná-lo. Como disse outro grande intelectual palestino, Edward Said: sem entender o impacto do Holocausto na alma israelense os palestinos nunca serão capazes de lidar com os israelenses.

Os poetas são os marechais na luta entre as memórias, entre os mitos, entre os traumas. Precisaremos deles no caminho para a paz entre israelenses e palestinos, entre os dois Estados, para construirmos um futuro comum.

Não estive presente ao funeral de Estado organizado pela Autoridade Palestina na Mukata, uma cerimônia muito bem organizada, em seus mínimos detalhes. Cheguei duas horas depois, quando o corpo de Darwish foi enterrado numa alta colina, observando, de cima, o cenário, perto do Centro Cultural de Ramallah, que a partir de agora terá seu nome. Lá foram disparados os tiros em sua honra.

Fiquei profundamente impressionado com as pessoas, reunidas sob o sol escaldante à volta do túmulo coberto por flores, ouvindo a voz gravada de Darwish declamando seus versos. Os que estavam presentes, membros da elite e gente simples das aldeias, se uniram em silêncio, com o poeta, numa comunhão privada. Apesar de serem milhares, abriram alas para nós, os israelenses, que ali estávamos para reverenciar Mahmoud Darwish.

Despedimo-nos silenciosamente de um grande palestino, um grande poeta, um grande ser humano.

16/8/2008

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