Dois planetas

Passei o dia saltando entre os canais da televisão israelense e a Al Jazeera.

Foi uma experiência estranha: numa fração de segundo eu podia passar de um mundo a outro, enquanto todos os canais noticiavam exatamente o mesmo acontecimento. Os fatos ocorriam em uma distância de apenas alguns metros entre os dois lados, mas podia se pensar que estavam acontecendo em dois planetas diferentes.

Nunca antes eu experimentara o trágico conflito de forma tão imediata e impressionante como na quarta-feira passada, dia da troca de prisioneiros entre o Estado de Israel e o Hezbollah.

A figura central do evento personifica o abismo que separa os dois mundos, o israelense e o árabe: Samir al-Kuntar.

A mídia israelense diz "assassino Kuntar", como se "assassino" fosse seu nome próprio. Para a mídia árabe, é "herói Samir al-Kuntar".

Há 29 anos, antes de o Hezbollah tornar-se um fator significativo no conflito, Kuntar desembarcou com seus companheiros na praia de Nahariya e executou um atentado que ficou impresso na memória nacional israelense pela crueldade. Durante o ataque uma menina de 4 anos foi assassinada e uma mãe sufocou acidentalmente outra criança, tentando impedir que gritasse e revelasse onde estavam escondidas. Kuntar tinha então 16 anos. Não era palestino nem xiita,

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