mas sim um druso libanês e comunista. A ação foi iniciativa de uma pequena facção palestina.
Há alguns anos tive uma discussão com meu amigo Issam alSartawi sobre um incidente semelhante. Sartawi foi um herói palestino, pioneiro da paz com Israel, que anos depois foi assassinado por causa dos contatos que mantinha com israelenses. Em 1978 um grupo de combatentes palestinos ("terroristas" no jargão israelense) desembarcou na praia ao sul de Haifa para capturar israelenses com o objetivo de trocá-los por prisioneiros. Na praia encontraram uma fotógrafa que passeava inocentemente e a mataram. Depois interceptaram um ônibus cheio de passageiros e, no fim, todos os palestinos e muitos passageiros israelenses foram mortos.
Eu conhecia a fotógrafa. Uma jovem delicada, uma boa alma, que gostava de fotografar flores na natureza. Em conversas com Sartawi, protestei contra aquele ato desprezível. Ele me disse: "Você não entende. São adolescentes, quase meninos, mal treinados e inexperientes, operando por trás das linhas de um inimigo temido. Estão apavorados. Não são capazes de agir de maneira fria e lógica."
Foi um dos poucos temas sobre os quais discordamos - embora ambos, ele e eu, cada um dentro de seu próprio povo, estivéssemos posicionados na franja da franja.
Nesta quarta-feira a diferença entre os dois mundos apareceu em sua forma mais extrema. De manhã o "assassino Kuntar" acordou numa prisão israelense, à noite o "herói al-Kuntar" estava diante de cem mil libaneses, de todas as comunidades e partidos, que o aplaudiam. Só precisou de alguns minutos para passar do território israelense até o pequeno enclave da ONU em Ras-al-Naqura e de lá até o território libanês, e do domínio da TV israelense ao domínio da TV libanesa - mas a distância era mais longa do que a que Neil Armstrong viajou até chegar à Lua.
De tanto falar, continuamente, sobre o "assassino manchado de sangue" que jamais seria libertado, acontecesse o que acontecesse, Israel converteu-o de um simples prisioneiro em um herói da nação árabe.