Hoje em dia já soa como banalidade dizer que um terrorista, para uns, é combatente pela liberdade, para outros. Esta semana um mínimo toque do dedo no controle remoto da televisão bastava para viver essa experiência em primeira mão.
As emoções eram fortes, dos dois lados.
O público israelense mergulhou num mar de tristeza e luto pelos dois soldados cuja morte só foi confirmada minutos antes da chegada dos corpos. Durante várias horas todos os canais da televisão israelense dedicaram suas transmissões aos sentimentos das duas famílias, que a mídia, ao longo de dois anos, convertera em símbolos nacionais (e em instrumento para alavancar a opinião pública).
Desnecessário dizer que nenhuma voz ouviu-se, em Israel, que lembrasse as 190 famílias que também receberam os corpos de seus filhos, no Líbano, no mesmo dia.
Nesse turbilhão de autocomiseração e cerimônias de luto o público israelense não teve energia ou interesse para tentar entender o que acontecia do outro lado. Ao contrário: a recepção de honra ao "assassino" e o discurso da vitória do "cérebro da matança" só puseram lenha na fogueira da fúria, do ódio e da humilhação.
Mas teria sido proveitoso que os israelenses acompanhassem o que acontecia do outro lado, porque o que acontecia do outro lado terá grande impacto em nossa situação.
Foi, é claro, o grande dia de Hassan Nasrallah. Aos olhos de dezenas de milhões de árabes ele foi o grande vitorioso de toda a operação. Um grupo pequeno, num país pequeno, pôs Israel, a potência regional, de joelhos enquanto os líderes dos países árabes ajoelham-se ante Israel.
Nasrallah havia prometido que resgataria Kuntar. Por isso capturou os dois soldados. Dois anos e uma guerra depois, o ex-prisioneiro, recém-libertado, subiu ao palanque, vestindo um uniforme do Hezbollah, e o próprio Nasrallah, contrariando até as normas estritas de segurança, apareceu e o abraçou frente às câmeras de TV. A massa enlouqueceu de tanto entusiasmo.