Cada vez que ouço a voz de David Ben-Gurion pronunciando as palavras "Portanto, nos reunimos aqui..." penso em Issar Barsky, um jovem encantador, o irmão mais novo de uma namorada que tive.
A última vez que o vi foi em frente ao refeitório do kibutz Hulda, na sexta-feira, dia 14 de maio de 1948.
Naquela noite, meu batalhão deveria atacar al-Qubab, uma aldeia árabe na estrada para Jerusalém, a leste de Ramie. Estávamos ocupados com os preparativos. Eu limpava meu rifle tcheco quando alguém chegou e disse que Ben-Gurion estava fazendo um discurso sobre a fundação do Estado.
Francamente, os discursos dos políticos em Tel Aviv não nos interessavam muito. A cidade parecia muito distante. O Estado, sabíamos, estava aqui, conosco. Se os árabes vencessem, não haveria nem Estado nem "nós". Se nós vencêssemos, haveria um Estado. Éramos jovens e autoconfiantes e nem por um momento duvidávamos de que venceríamos.
Mas havia um detalhe que me interessava muito: como se chamaria o novo Estado? Judeia? Sion? O Estado Judeu?
Portanto, corri para o refeitório. A voz inconfundível de BenGurion retumbava do rádio. Quando disse "... e chamar-se-á Estado de Israel", que era o que me interessava saber, saí do refeitório.