civilização islâmica, inimigos mortais combatendo uma guerra de Gog e Magog.
Nosso Muro tornou-se a linha da frente entre esses dois mundos.
O Muro não é só uma estrutura de arame e concreto. Mais do que tudo, o Muro - como todos os muros semelhantes - é uma declaração ideológica, uma declaração de intenção, uma realidade mental. Os construtores declaram que pertencem, de corpo e alma, a um campo, o campo ocidental; e declaram que do outro lado do muro começa o mundo oposto, o inimigo, as massas de árabes e outros muçulmanos.
Quando se decidiu sobre isso? Quem decidiu? Como?
Há 102 anos, Theodor Herzl escreveu, em sua obra inovadora Der Judenstaat, da qual nasceu o movimento sionista, uma sentença carregada de significado: "Para a Europa, constituiremos lá [na Palestina] um setor do muro contra a Ásia, serviremos como vanguarda da cultura contra a barbárie."
Assim, em 22 palavras em alemão, foi estabelecida a visão de mundo do sionismo e o lugar que aí teríamos. E agora, depois de um atraso de quatro gerações, o muro físico segue o traçado do muro mental.
O quadro é mais do que claro: fazemos essencialmente parte da Europa (como a América do Norte), parte da cultura que é inteiramente europeia. Do outro lado: a Ásia, um continente bárbaro, sem cultura, incluindo o mundo árabe e muçulmano.
Pode-se entender a visão de mundo de Herzl. Era um homem do século XIX e escreveu seu tratado quando o imperialismo branco estava no zénite. Ele o admirava com toda sua alma. Esforçou-se (em vão) para se encontrar com Cecil Rhodes, o homem que simbolizava o colonialismo britânico. Dirigiu-se a Joseph Chamberlain, secretário britânico para as colônias, que lhe ofereceu Uganda, então colônia britânica. Ao mesmo tempo, também admirava o Kaiser alemão e seu Reich, tão perfeitamente organizado que executou um genocídio horrível no sudoeste da África no ano em que Herzl morreu.