conforme as instruções. Ben-Gurion obteve maioria no Parlamento, mais de uma vez, só com a ajuda desses votos cativos.
Por razões "de segurança" os árabes foram submetidos a um regime de "governo militar". Todos os detalhes de suas vidas dependiam dele. Precisavam de uma autorização para sair das aldeias e para viajar até a cidade ou a aldeia vizinha. Sem autorização do governo militar, não podiam comprar um trator, nem mandar uma filha para a Escola Normal, nem obter emprego para um filho, nem receber uma licença de importação. Sob a autoridade do governo militar e de uma série de outras leis, enormes áreas foram expropriadas das aldeias árabes em favor de cidades judaicas ou de kibutzim.
Uma história que ficou gravada na minha memória: um amigo já falecido, o poeta Rashed Hussein, da aldeia de Musmus, foi convocado para uma conversa com o governador militar em Netanya, que lhe disse: "O Dia da Independência está se aproximando e quero que você escreva um belo poema para a ocasião." Rashed, um jovem orgulhoso, recusou-se. Ao chegar em casa, encontrou toda a família sentada no chão, chorando. No começo pensou que alguém tinha morrido, mas sua mãe logo gritou: "Você nos destruiu! Estamos acabados!" Assim, o poema foi escrito.
Qualquer iniciativa política árabe independente era sufocada desde o início. O primeiro desses grupos - o grupo nacionalista al-Ard ("a terra") foi rigorosamente reprimido. O grupo foi banido, seus líderes foram exilados e seu jornal foi proibido - tudo com a bênção da Suprema Corte. Só o Partido Comunista permaneceu intacto, mas seus líderes também eram perseguidos de vez em quando.
O governo militar foi desmantelado só em 1966, após Ben-Gurion deixar o poder, e pouco tempo depois que fui eleito para o Parlamento. Depois de me manifestar tantas vezes contra o governo militar, tive o prazer de votar pela sua abolição. Mas, na prática, pouca coisa mudou - em vez do governo militar oficial, um não oficial permaneceu, assim como a maioria dos atos de discriminação.