O "Dia da Terra" mudou a situação. Crescera em Israel uma segunda geração de árabes, que já não era timidamente submissa como a anterior, uma geração nova que não vivera as expulsões em massa e cuja posição econômica melhorara. A ordem dada aos soldados e policiais, de abrir fogo contra eles, causou um choque. E assim teve início um novo capítulo.

A porcentagem de cidadãos árabes residentes em Israel não mudou: desde os primeiros dias do Estado até hoje se mantém em torno de 20 por cento. A taxa bem mais alta de crescimento natural da comunidade muçulmana foi contrabalançada pela imigração judaica. Mas os números aumentaram de maneira significativa: dos 200 mil, no início do Estado, para quase 1,3 milhão de cidadãos árabes hoje em dia - o dobro do tamanho da comunidade judaica que fundou o Estado.

O "Dia da Terra" também mudou dramaticamente a atitude do mundo árabe e do povo palestino em relação aos árabes em Israel. Até então eles eram considerados traidores, colaboradores da "entidade sionista". Lembro-me de uma cena da reunião de 1965, convocada em Florença por Giorgio la Pira, o legendário prefeito daquela cidade. La Pira tentou reunir personalidades de Israel e do mundo árabe. Naquele tempo a iniciativa foi considerada muito audaciosa.

Em um dos intervalos eu estava conversando com um importante diplomata egípcio, numa praça ensolarada, fora do recinto do evento, quando dois jovens árabes de Israel, que tinham ouvido falar da conferência, se aproximaram. Depois de abraçá-los, apresentei-os ao egípcio, mas ele lhes deu as costas e exclamou: "Estou disposto a falar com você, mas não com estes traidores!"

Os acontecimentos sangrentos do "Dia da Terra" levaram os "árabes israelenses" de volta ao seio da nação árabe e do povo palestino, que hoje os chamam de "os árabes de 1948".

Em outubro de 2000, policiais novamente atiraram e mataram cidadãos árabes quando tentavam manifestar sua solidariedade com

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