Pior do que crime

Parecia a queda do Muro de Berlim. Não apenas parecia. Por um momento, a passagem de Rafah foi o Portão de Brandemburgo.

É impossível não se emocionar quando uma multidão de pessoas oprimidas e famintas rompe um muro que os cerca, com os olhos brilhando, abraçando a todos que encontram pelo caminho - sentir essa emoção mesmo sabendo que foi seu próprio governo que construiu aquele muro.

A Faixa de Gaza é a maior prisão da Terra. A derrubada do muro de Rafah foi um ato de libertação. Demonstrou que uma política desumana é sempre uma política estúpida: nenhum poder pode conter uma multidão que já tenha cruzado o limite do desespero.

Essa é a lição de Gaza, janeiro de 2008.

Caberia aqui a frase famosa do estadista francês Boulay de Ia Meurthe, com uma pequena adaptação: "É pior do que crime de guerra: é uma estupidez!"

Há alguns meses, os dois Ehuds - Barak e Olmert - impuseram um bloqueio à Faixa de Gaza e vangloriaram-se disso. Depois, foram apertando o nó mortal cada vez mais, até que praticamente nada entrava na Faixa. Na semana passada tornaram o bloqueio hermético - nem comida nem medicamentos. As coisas chegaram ao auge quando suspenderam também o fornecimento de combus¬

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