judeus "exilados" e tudo que dissesse respeito a eles eram tratados com desprezo e até com escárnio.
Aos poucos, surgiu uma clara distinção terminológica: o Yeshuv "hebreu" e a religião "judaica"; o kibutz "hebreu" e o shtetl "judeu" (na Diáspora); o trabalho "hebreu" (como no nome da união sindical então dominante, "Organização Geral dos Trabalhadores Hebreus em Eretz-Yisrael") e o luft-gesheften (em ídiche, "transações nebulosas") "judeu"; trabalhadores "hebreus" e especuladores "judeus".
Itzhak Rabin foi o Sabra definitivo: um jovem bonito que sacrificou sua ambição pessoal (estudar engenharia hidráulica) para servir à nação, tornar-se um combatente e comandar combatentes, para agir e deixar as discussões sobre ideologia para os velhos.
Tinha a reputação de possuir uma "mente analítica", por sua capacidade de examinar uma situação determinada e encontrar soluções práticas. A outra face da moeda era sua falta de imaginação. Lidava com a realidade e não era capaz de imaginar uma realidade diferente. (Abba Eban, que o odiava, disse-me com seu estilo malicioso: "Analisar significa separar em partes. Rabin pode separar as partes, mas não é capaz de juntá-las outra vez.")
Rabin era arredio, talvez tímido, evitava contato físico, tapas nas costas e abraços em público. Alguns o chamavam de "autista". Mas não era autoritário, certamente não era arrogante. Depois de alguns copos (sempre scotch), abria-se um pouco e, em festas, às vezes sorria seu sorriso um pouco torto e tornava-se bastante amigável.
Se tivesse morrido em 1970, o lembraríamos apenas como soldado, um bem-sucedido comandante de brigada na guerra de 1948, o melhor chefe do Estado-Maior que o Exército israelense já teve, arquiteto da incrível vitória na Guerra dos Seis Dias. Mas esse foi apenas um capítulo de sua vida agitada. Aos 70 anos fez algo que raramente se consegue fazer sequer aos 30: mudou completamente de visão de mundo e abandonou as certezas que, até ali, haviam governado sua vida.