Fui testemunha dessa mudança extraordinária. Em 1969, quando Rabin servia como embaixador de Israel em Washington, conversamos pela primeira vez sobre a questão palestina. Ele rejeitou completamente a ideia de paz com os palestinos. Ainda lembro uma frase dele, naquela conversa: "Não me interessam fronteiras seguras, quero fronteiras abertas." (Um jogo de palavras, em hebraico, entre batuach, "segura", e patuach, "aberta".) "Fronteiras seguras" era, naquele tempo, o slogan dos favoráveis à anexação dos territórios ocupados. Rabin queria uma fronteira aberta com a Jordânia e certa vez disse: "Não me incomodo se precisar de visto para ir a Flebron."
Depois disso nos encontramos de tempos em tempos - em seu escritório, na residência de primeiro-ministro, em sua casa particular e em eventos sociais - e a conversa sempre voltava à questão palestina. A atitude dele permaneceu negativa.
Sei, portanto, como sua mudança foi radical. Não creio que eu o tenha influenciado - no máximo, talvez, plantei algumas sementes. Ele mesmo me explicou a mudança, anos depois, como uma série de deduções lógicas: como ministro da Defesa tivera encontros com personalidades palestinas locais. Em conversas privadas, só a dois, eram cordatos; mas, em grupo, tornavam-se negociadores duros e lhe diziam que recebiam instruções da OLR Depois veio a conferência de Madri. Israel cedeu à pressão e aceitou negociar com uma delegação jordaniana que incluía membros palestinos. Uma vez lá os jordanianos recusaram-se a discutir questões palestinas e, assim, os palestinos tornaram-se, na prática, uma delegação independente. Feisal Husseini, seu verdadeiro líder, não podia entrar na sala da conferência, porque era habitante de Jerusalém. Os membros da delegação, de tempos em tempos, iam à sala onde ele estava para consultá-lo e, ao fim de cada dia, diziam aos israelenses que tinham de telefonar a Tunis, para receber instruções de Yasser Arafat.
"Tornou-se ridículo demais para mim", disse-me Rabin, em sua maneira direta, "se tudo, de qualquer modo, depende de Arafat, por que não falar diretamente com ele?"