Nunca tínhamos visto soldados israelenses naquele estado: sujos, barbudos, visivelmente assustados, em uma situação miserável, a qual só prisioneiros de guerra conhecem.
Fez-se silêncio na sala. Naquele momento morreu o mito do superhomem israelense, do soldado israelense invencível, que dominara as nossas vidas por uma geração. Esse mito foi a vítima definitiva da Guerra do Yom Kippur.
É verdade, o Exército de Israel demonstrou sua capacidade. Em três semanas de guerra arrebatou uma vitória que parecia impossível. No começo da guerra, o ministro da Defesa, Moshe Dayan, balbuciava algo sobre a "destruição do Terceiro Templo" (se referindo ao Estado de Israel) e no final o Exército ameaçava tanto o Cairo como Damasco.
Mas a lenda do Exército israelense invencível foi destruída. A imagem dos prisioneiros israelenses desamparados e humilhados não sai de nossa memória. Logo depois da guerra eclodiu a Batalha dos Generais. A disputa entre eles destruiu o prestígio dos líderes militares, que até então eram os ídolos da população. Esse prestígio jamais voltou a ser o que fora. (Mas, ao contrário do que muitos esperavam, não diminuiu o controle do Exército sobre a política israelense.)
A essa ruptura psicológica seguiu-se uma mudança política. A geração de Golda Meir saiu de cena, substituída pela geração de Itzhak Rabin. Só três anos e meio depois aconteceu o que então era impensável: Menachem Begin, o eterno líder da oposição, assumiu o poder.
O maior feito de Begin, a paz com o Egito, foi resultado direto da Guerra do Yom Kippur, que os árabes chamam de Guerra do Ramadã. O orgulho egípcio se recuperou depois de atravessarem o Canal de Suez e romperem a Linha Bar-Lev - e assim a paz tornouse possível. Fui um dos primeiros cinco israelenses que chegaram ao Cairo depois de Sadat ter visitado Jerusalém e me lembro claramente dos cartazes nas ruas: "Sadat - Herói da Guerra, Herói da Paz!"
Em Israel também muitos lembram de Begin como herói da paz. Afinal, ele foi o primeiro estadista israelense que fez a paz com um