Geralmente, quando um movimento de libertação nacional alcança seu objetivo, a mudança ocorre de uma vez só. Um dia antes a França dominava a Argélia, no dia seguinte a Argélia passou a ser controlada pelos que combatiam pela liberdade. O governo da África do Sul foi transferido da minoria branca para a maioria negra num só passo.

Na Palestina criou-se uma situação completamente diferente: foi instalada uma autoridade palestina, com símbolos semelhantes aos de um Estado, mas a ocupação não terminou. Essa situação foi muito mais perigosa do que se percebeu de início. Havia uma forte contradição entre o "Estado em construção" e a continuação da luta pela libertação. Uma das expressões dessa contradição foi a nova classe, das novas autoridades palestinas, que se beneficiaram dos frutos do poder e começaram a sentir o cheiro da corrupção, enquanto as massas continuavam a sofrer os tormentos da ocupação. A necessidade de prosseguir na luta se chocava com a necessidade de consolidar a Autoridade Palestina (AP) como um quase Estado.

Arafat conseguiu, com grande dificuldade, equilibrar essas duas necessidades contraditórias. Por exemplo: exigia-se transparência nas transações financeiras da AP, enquanto o financiamento da resistência tinha necessariamente de manter-se encoberto. Era preciso conciliar a velha guarda, que controlava a AP, com os jovens que lideravam as organizações de luta armada. Com a morte de Arafat desapareceu a liderança unificadora e todas as contradições internas irromperam.

Essa situação pode levar os palestinos a concluir que a própria criação da AP foi um erro. Que foi erro interromper, ou mesmo restringir, a luta armada contra a ocupação. Há quem diga que os palestinos não deveriam ter assinado qualquer acordo com Israel (e, menos ainda, um acordo que cedesse, de saída, 78 por cento do território da Palestina) ou, no mínimo, que deveriam ter limitado o acordo a um documento interino, assinado por oficiais de baixo escalão, em vez de alimentar a ilusão de que uma paz histórica fora alcançada.

Dos dois lados há vozes afirmando que não apenas o Acordo de Oslo, mas todo o conceito da "solução de dois Estados" está morto.

323