Nós chegamos atrasados e encontramos assentos no escuro. Quando as luzes se acenderam no fim, Menachem Begin levantou-se à nossa frente. Seus olhos, vermelhos de chorar, se fixaram nos de Rachel. Sem se importar com os circunstantes, Begin caminhou na direção dela, tomou-lhe a cabeça nas mãos e a beijou na fronte.
Sob muitos aspectos, nós nos completávamos. Eu tendo para o pensamento abstrato, ela, para a inteligência emocional. Sua sabedoria vinha da vida. Eu sou reservado, ela se abria para as pessoas, embora prezasse sua privacidade. Eu sou otimista, ela era pessimista. Em toda situação, eu percebo as oportunidades, ela via os perigos. Eu me levanto feliz de manhã, pronto para as aventuras de mais um dia, ela se levantava tarde, sabendo que o dia seria ruim.
Os dois vínhamos de meios muito parecidos - nascidos na Alemanha em famílias intelectuais burguesas que acreditavam na justiça, na liberdade e na igualdade, paralelamente a um profundo senso de dever. Rachel tinha tudo isto em abundância, e mais ainda. Tinha um senso quase fanático da justiça.
As primeiras palavras que Rachel disse na vida, quando sua família fugiu da Gestapo, indo para Capri, foram mare scbõn, mar em italiano, belo em alemão.
Ela não lia nem escrevia em alemão, mas aprendeu a língua perfeitamente conversando com os pais - chegava até a corrigir minha gramática alemã.
Infelizmente, Rachel não tinha propriamente uma pontualidade prussiana. O que era constante motivo de desentendimento entre nós. Eu me sinto fisicamente doente se não sou pontual, Rachel estava sempre, mas sempre, atrasada.
Três vezes eu a encontrei pela primeira vez.
Em 1945, fundei um grupo para propagar a ideia de uma nova nação hebraica, integrada à região semítica, como os árabes. Como não tínhamos dinheiro para alugar um escritório, nos encontrávamos nas casas dos membros.